segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Tenho saudades da época em que eu era feliz

Não que hoje eu não o seja. Mas naquela época – quando eu era feliz – a felicidade era algo simples. Palpável. Ao alcance das minhas pequenas mãos. Sim, amigos, falo da infância. A época que passa sem que a gente se dê conta. Passa sem percebermos a dimensão real do quão importante ela é e, mais que tudo, do quanto somos felizes. Naquela época, felicidade fazia parte do meu dia-a-dia. Era algo inerente ao meu estado de espírito. E, digo isso, não pela ausência quase absoluta de responsabilidades. Não! Eu era feliz porque me permitia ser. Era feliz porque sabia que, no fundo, não tinha motivos para não o ser. Me contentava com o simples fato de estar ali. Não me era permitido fazer grandes questionamentos sobre o futuro, sobre o presente e...bem, o passado? Era algo tão recente, não?

Encontrava a felicidade ao brincar na calçada. Encontrava ao tomar vento no rosto, sentado no pátio lá em casa. Encontrava a felicidade ao chegar da escola e poder comer o almoço maravilhoso que só minha mãe sabia fazer. Aos finais de semana, felicidade era dormir até tarde e, no domingo, acordar com o cheiro do churrasco que meu pai preparava com tanto carinho pra toda família. Eu era feliz – e como não seria? – porque ria, e muito, com meus colegas de escola. Porque ao final de cada ano letivo, era o centro das atenções na peça de teatro que minha turma preparava. Eu não questionava tudo. Me chateava, sim, mas não fazia tempestades em copo d’água. Aceitava certos fatores com bem mais tranqüilidade. Meus amigos eram meus amigos – e isso sim era inquestionável.

Em qual esquina da minha vida essa felicidade se perdeu? Em que momento olhei pro lado e não a vi mais caminhando comigo? Crescer é maravilhoso, nos dá um pouco mais de serenidade e uma visão ampla do mundo. Nos permitimos descobrir bem mais a nós mesmos e aos que estão ao redor. Mas é aí que a felicidade passa a ser um objetivo. Não é mais um estado de espírito. Uma companhia. Claro, ser feliz o tempo todo é impossível... Mas falo de algo mais sutil. Falo da certeza que eu sentia. Da sensação de que, mesmo com o mundo contra, a felicidade existia nas pequenas coisas. Hoje, pequenas coisas não me bastam.

Talvez o erro seja exatamente esse. Talvez é por já estar tão “contaminado”, achando que para ser feliz preciso ter tudo, é que a felicidade fique cada vez mais longe de mim.

Quando eu era feliz, tinha tudo, pois me sentia assim.

Preciso descobrir isso de novo.

O Canhoto

7 comentários:

Anônimo disse...

Oi Guri, fez-me lembrar de Pessoa:

"Lembro-me de quando era criança e via,
como hoje não posso ver,
a manhã a raiar sobre a cidade.
Ela não raiava para mim,
mas para a vida.
porque então eu,(não sendo consciente)
eu era a vida.
E via a manhã e tinha alegria.
Hoje vejo a manhã,tenho alegria,
e fico triste.
Eu vejo como via,
mas por trás dos olhos,vejo-me vendo.
E só com isso,se obscurece o sol,
o verde das árvores é velho,
e as flores murcham antes de aparecidas."


Fernando Pessoa, do livro "Desassossego"

coisasqueeuvivendo disse...

A felicidade não se perde nas esquinas, ela so troca de esquinas, se movimento na medida em que nossos olhos de adultos começam a buscar outros horizontes.

Infelizmente nosso olhar viciado pelo excesso de estímulos nos impede de vê-la ai naquela esquina, parada, nos esperando, nos acenando, as vezes de braços abertos.

Em cada esquina uma lembrança, em cada lembrança uma saudade, em cada saudade uma esperança e um novo recomeçar....

Abs

coisasqueeuvivendo disse...

A felicidade não se perde nas esquinas, ela so troca de esquinas, se movimento na medida em que nossos olhos de adultos começam a buscar outros horizontes.

Infelizmente nosso olhar viciado pelo excesso de estímulos nos impede de vê-la ai naquela esquina, parada, nos esperando, nos acenando, as vezes de braços abertos.

Em cada esquina uma lembrança, em cada lembrança uma saudade, em cada saudade uma esperança e um novo recomeçar....

Abs

MaxReinert disse...

olha só... que por trás de um texto tão, aparentemente, triste encontro um Thiago querendo novamente descobrir a felicidade... que ótimo!!! Talvez esse seja o primeiro passo para a construção dessa sensação de felicidade... ir em busca dela e não esperar que ela te encontre no meio do caminho... não aceitar aquilo que nos dizem que nos pertence e sim ir em busca do que queremos e "sabemos" que nos pertence... se vamos descobrir? não sei!... mas a busca vai nos ajudar a matar um belo tempo... e quem sabe, em algum momento, sem querer, encontramos algo!... a felicidade? Não sei... talvez algo que nem sabíamos que estávamos buscando!

Boa sorte!!!!!

Anônimo disse...

Lendo o texto percebo que partilhei contigo momentos de felicidade e hj vendo o Gabi, reaprendo o que é ser feliz... a gente que complica...Dani

O Destro & O Canhoto disse...

Amigo. Uma certeza eu tenho sobre a felicidade. Eu a encontro aqui lendo teus textos e publicando os meus. Se o Liandro disse acima q ela muda de esquinas, aqui está uma onde nós a encontramos.

Bj

O Destro

Rodrigo disse...

Lendo o post lembrei da minha infância, e de que também eu era tão feliz e não percebia. Não que hoje eu seja infeliz, a diferença é que realmente, quando crescemos nós não vemos felicidade em qualquer coisa. Um guri pode ver a felicidade num carrinho, e aí crescer e não se sentir feliz enquanto não tiver O carrão.

Abraços