segunda-feira, 19 de maio de 2008

PAGANDO O PATO


Desta vez o leitor participa. A última frase do conto está em branco, para quem quiser sugerir. Na primeira consulta que fiz por e-mail, vieram respostas das mais politicamente corretas às mais irônicas. Qual seria a sua frase? O que você diria?


- Eu quero um pato.

Júlia foi enfática, como toda criança birrenta. E não teve Cristo que a fizesse mudar de idéia.

Maldita visita da escolinha ao sítio, pensei.

Geremias logo estava entre nós. Com suas penas delicadas, seu grasnar suave e seu rebolar engraçado, que Júlia imitava o tempo todo. O novo animal de estimação era pura atitude e personalidade. Cagava e andava. Literalmente.

O bicho foi crescendo cada vez mais. E cagando cada vez mais também. E como cagava. Quack, quack, ploft. Quack, quack, ploft. Soltava suas penas enormes, seu grasnado estridente e suas fezes por toda a casa.

Apelei. Disse que ele estava triste, o pobre. Prometi que ele não viraria assado, mas que ele precisava estar entre os de sua espécie. Achei dois livros de histórias infantis que jogaram a meu favor. Júlia acabou aceitando que seus bichos de pelúcia não eram a melhor companhia e, seu quarto, o melhor ambiente para o desenvolvimento da ave.

Marcamos a despedida. Seria no lago do parque, onde viviam muitos outros patos como Gê, mas que não defecavam no meu carpete e nem saltavam do armário quando eu abria a porta.

No dia, Júlia conversou meia hora com Geremias. Entendiam-se bem, os dois. Prometeu vir visitá-lo e tudo mais.

Cumprido o ritual, Júlia colocou o bípede na água, devolvendo-o ao seu habitat natural.

Mal começou a nadar quando os demais patos se aproximaram amistosamente, como se recebendo o novo membro do bando.

Júlia abriu um sorriso e eu suspirei, aliviada.

- Viu só, minha filha...

Antes que eu pudesse concluir a frase, os animais o cercaram e o ataque ao intruso começou. Bicaram Geremias, que agonizou, até a morte.

- ... SUA FRASE AQUI


O Destro

18 comentários:

Anônimo disse...

Apavorado com a situação que ali se encontrava, não entendendo o que se passava no reino animal atualmente, olhei para minha filha com um ar atônito e disse:

Guilherme de Oliveira disse...

Júlia olha para sua mãe, que estava apavorada, e diz:

- Viu mãe, isso que dá fazer tanta merda.

RedLabel disse...

Primeiro, Julia solta um estridente grito de pavor devido a tamanha agressividade dos anfitrioes. Coloquei minha mao sobre seu ombro e senti-a paralisar. Passou a observar gelidamente a cena. E num suspiro que so consegui interpretar como sendo de alivio. Um alivio morbido, pensei. Senti seu ombrinho empurrar todo o ar dos pulmoes: - Mae, o tio Antenor ainda empalha bichinhos?

==andre== disse...

E com a expressão inalterada olhei para júlia e disse:
- Viu só, minha filha. Destes ao pobre pato a chance de morrer entre os seus.

O Destro & O Canhoto disse...

...os patinhos estão brincando de....de....hã....bem...como é aquela música mesmo, Júlia? Ajuda a mamãe, vamô lá: "Dois patinhos foram passeaaaaaar, além da montanha para brincaaaaaaaaaaaaar....a mamãe gritou quá quá quáááááá....e....só...só....voltou...voltaram e....hã... - terminei a frase com um sorriso amarelo-peido e a nítida sensação de que a palavra MERDA combinava, e muito, com ele. Júlia, de olhos arregalados, ficou imóvel por longos 57 minutos. Até hoje, ela não se aproxima de patos.
E não ouve músicas da Xuxa.

O Canhoto

gustavo disse...

ANTES DE MAIS NADA...
(AI Q SACO, JA TEM UM FINAL IGUAL AO MEU...)

Diante de cena tao brutal... nada me ocorreu, a nao ser cantarolar junto com Júlia ".... cinco patinhos foram passear...."

Unknown disse...

(quando estava lendo a história confesso q a música irritante - diga-se de passagem, da xuxa não me saiu da cabeça....)
então:
seis patinhos foram passear além das montanhas para brincar...

Anônimo disse...

Atordoada com a cena, respirei fundo e coloquei a mao sobre o ombro de Julia concluindo aquela jornada mortal, dando as costas para o lago onde ainda se escutavam os derradeiros suspiros de Geremias.
Saimos caminhando rumo a um por-do-sol maravilhoso, porém Julia inquieta e nao satisfeita, queria saber o que tinha acabado de acontecer ali. Tomada de um sentimento materno, agaichei-me frente a Julia e disse.
- fique tranquila, os patos costumam receber novos membros dessa maneira, é como um ritual de aceitaçao.
Julia aprovou a explicaçao, dizendo que daquela forma era melhor, assim nao ficaria tao preocupada em cagar os pés quando chegasse em casa.

MaxReinert disse...

- Ví pai... tô vendo! Se fosse pra matar o bichinho , devíamos ter feito em casa... pelo menos podíamos fazer um assado!

E o pai, foi pra casa pensando onde foi parar a ingenuidade infantil!

Anônimo disse...

_ O mundo é um lugar perigoso, cruel e doente. Por isso que tu só pode começar a pensar em sair de casa depois dos 32, formada e casada com um bom partido.

Alice Moreno disse...

Julia disse:
- Que ideia de merda, pai!

Dougropi disse...

Minha filha quando você crescer vai aprender o que quer dizer "CADEIA" alimentar e liberdade "INcondicional"!

Marcelo do Vale disse...

Nisso entrou um ladrão na beira do lago para levar o Geremias embora, afinal estava morto e poderia comê-lo. Fui até o rapaz e disse:
- Ô bucéfalo! Não o interpelo pelo valor intrínseco do bípede palmípede, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito de sua penosa alma. Se o faz por necessidade, transijo, mas se é para zombares da honrosa dignidade da minha primogênita, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga que te reduzirei a nonagésima quarta potência do que o vulgo denomina nada!
O ladrão com o pato embaixo do braço olhou pra mim e disse:
- Tá doutor, eu levo ou deixo o pato?!?

Anônimo disse...

ih!!!!!!! e agora!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

...como nem os colegas de espécie parecem gostar do Gê.

Ricardo Baptista disse...

Afundei até o joelho no lago e voltei com Geremias no colo. A cabeça dele pendia inerte, balançando enquanto eu caminhava. Na margem, peguei seu o pescoço e o estiquei com as duas mãos à minha frente enquanto dizia à Julia:
-presta atenção.
Cravei os dentes no pescoço de Geremias com força, um fio de sangue começou a verter. Ofereci à ela:
-bebe, filha. Tem mais ferro que um danoninho.

keigiro disse...

- Vi. Me dá outro???

Katarina disse...

- Mãe, quero um coelho.