domingo, 6 de maio de 2007

Tragédia em dois atos

Primeiro Ato

- Tragédia!
Afoguei-me com a água quando Luiza entrou em casa gritando e realmente apavorada. Embora seu corpo saltitante e seu traje branco impecável sem nenhuma mancha de sangue mostrasse que fisicamente estava tudo bem, a cara era de quem acabava de ser atropelada. Assim que fiz a varredura e recuperei o fôlego consegui perguntar a ela, que permanecia parada olhando pra mim com os olhos cheios e as mãos à boca:
- O que houve? Joana foi promovida?
Não havia nada mais assustador para Luiza que ver sua colega Joana passar a frente dela na empresa de cosméticos onde trabalhavam. Foi o meu primeiro e natural palpite.
- Muito pior... – Ela respondeu tomando o copo da minha mão e bebendo pelo menos 300ml num único gole antes de completar:
- ...Letícia. – Foi o que ela conseguiu pronunciar antes de cair em pranto e me abraçar.
Puxa, Letícia era uma garota tão simpática, e um sucesso na época da escola, o que teria acontecido a ela pra ter passado desta pra melhor?! Sim, pois além de Joana fazer sucesso na carreira, só uma morte súbita e inesperada e injusta pra deixar Luiza transtornada desta forma. Eu já estava emocionado quando ela se desprendeu e voltou a falar:
- Encontrei Letícia na rua, por acaso, naqueles dias em que nada pode sair errado, em que você espera tudo de bom, quem sabe flores suas quando eu chegasse em casa.
Não faço isso há anos, pensei.
- Mas não. Surge Letícia na minha frente. Com os peitos mais caídos que eu já vi em toda a minha vida. Ela poderia fazer embaixadas com os próprios seios.
Comecei a entender Luiza. Elas tinham a mesma idade, trinta e sete. A lei da gravidade não era condizente com ninguém por muitos anos. Luiza queria ser uma fora-da-lei.
Correu pra diante do espelho e começou a se apalpar sem parar. Nem no exame de mama, onde minha ajuda era requisitada às vezes e acabávamos num sexo enlouquecido brincando de médico, ela se tocava tanto.
- Nossa, isso é mesmo estranho. Letícia era um avião. Não consigo imaginar – concordei ingenuamente.
- Pois agora ela não passa de um teco-teco. E além disso, senhor Gustavo, eu estou arrasada mas consciente. Uma época o avião aqui era eu.
- Você é um hangar inteiro, meu amor – corrigi há tempo de evitar que a raiva pela força gravitacional se voltasse contra mim. Corri a buscar mais água.

Segundo Ato

Quando voltei com a água, desta vez com açúcar, ela já estava ao fone, conversando com outra amiga:
- Guria! Você tem visto a Letícia ultimamente?!
O Destro

Um comentário:

MaxReinert disse...

Até que enfim decidiram ressucitar isto aqui!!!!
Oba!!!!!!!

Começamos bem mais divertidos que o último post!!!!

hehehehehheheheheheh