Aconteceu na última quinta-feira. Assistia a uma missa da Renovação Carismática Católica, a convite de uns amigos. Logo que entrei na igreja tratei de sentar no último banco, bem longe das cantorias, aplausos e coreografias que fazem parte dessas celebrações. Doce engano...da primeira fileira de bancos e até a última, todos, sem exceção, gesticulavam e davam glórias ao Senhor. Uma empolgação só. E eu? Apagado.
Mas, engraçado...o que me motiva a escrever sobre isso é a fé. Dos outros, não a minha. Juro que prestei atenção em toda a celebração, que durou duas horas. E poderia ter durado bem mais. Três, quatro, cinco horas. Dane-se: aquele pessoal que cantava bem alto, batia palmas, sorria e derramava lágrimas não se importaria. Afinal, lembrar do relógio pra que? O dia tem 24 horas, duas horas são quase nada se usadas para um "bate-papo" com Cristo.
Ao meu lado, um senhor duns 60 e poucos anos de idade e com os movimentos um tanto quanto debilitados, insistia em desprender meus olhos do altar. E eis que vos revelo: é a fé, gente. A fé daquele velho senhor, era de dar inveja. Eu enxergava - qualquer um enxergaria - que o que ele sentia naquele momento, era puramente verdadeiro. Uma fé que o fazia dançar com movimentos estranhos, que o fazia bater palmas descordenadamente, que o fazia cantar bem alto com a voz mais desafinada do mundo. Uma fé que o fazia acreditar que estar ali, valia a pena. Não sinto inveja dele. Sinto apenas...que não sinto o mesmo que ele.
Por vezes durante a celebração me deu vontade de rir, achando tudo aquilo um teatro exagerado. Meu pensamento voou longe, mas eu o trazia de volta porque queria ter certeza de que estava no lugar certo. E foi isso que constatei: que estava, sim, no lugar certo. Só que na hora errada."Hora errada" porque esse lance de fé tem muito a ver com a maneira como cada pessoa encara sua vida. Com o momento de cada um. Hoje não tenho necessidade alguma de freqüentar missas, de comungar ou me confessar. Minha fé gira em torno do meu próprio umbigo e não daquilo que outros julgam ser correto. E isso não é auto-suficiência ou arrogância. Prefiro mil vezes, antes de dormir, fechar os olhos e agradecer pelo meu dia, pelas coisas boas que sempre me acontecem e por aí vai. Minha fé não mora dentro da igreja. Mora dentro de mim.
Confesso que às vezes sinto falta de acreditar em algo maior, mas acabo sempre me convencendo que cada um é como é e ponto final. Alguns conseguem ir além, outros tentam e não conseguem. E outros não precisam. Quem pode julgar?
A celebração terminou com fortes aplausos para Jesus, fiéis emocionados pelo encontro com o Senhor e, para mim, com uma indescritível sensação de "nada". Mas não acho isso triste, não. Apenas diferente. Serviu pr'alguma coisa? Quem sabe. Por ora fico aqui com minha fé, dentro de mim. Sei que ela será muito melhor aproveitada aqui, do que dentro daquela igreja. Afinal, a fé de cada um, cada um sabe onde deve buscar.
O Canhoto
5 comentários:
Fé é sempre importante, seja lá onde ela resida... mantenha a sua.
Enfim um texto bom neste blog, parabéns
PH
Muito bom T.. ops, canhoto!!!
Gostei do texto!
Eu tenho fé... no Teatro, no trabalho, em alguns homens e em mim!
Não basta?
Pra mim basta!!!!
A forma de como escreves é inconfundível... direta, fluente, pontual e tocante.. tem a sensibilidade e a percepção de um artista nas suas colocações... pois consegue perceber detalhes que muitos jornalistas não percebem... continuarei lendo... e indicando o blog, parabéns !
BM
as vezes me pergunto mesmo se é a fé_tão individual_pode virar uma ação coeltiva tão "massiva' como a igreja procura doutrinar. Tô contigo, fé é dentro de mim!
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