domingo, 8 de outubro de 2006

Cadê minha chupeta?!

Em alguma parte do caminho, nós perdemos a inocência. Como a criança que deixa cair a chupeta da boca sobre o ombro da mãe e, não sabendo ainda falar, nada consegue fazer. Nem sempre conseguimos lembrar ou ver a inocência partindo, como a criança olhando para a chupeta no chão até não a vir mais, mas é sempre algo sobre o qual nada podemos fazer. Acontece com todos.
De repente, nos pegamos olhando para as nossas vidas, sem entender muito bem o sentido de tanta coisa nela, sem compreender a razão pela qual os sonhos mudaram, às vezes até desapareceram. Ressurgem de vez em quando por certo, mas são fugazes, vão embora logo, ficam pouco, bem diferente dos sonhos de inocência e tão menos belos e intensos.
Nos pegamos nos questionando o que é importante. Nos pegamos com lágrimas nos olhos sabendo que há algo a superar. A criança tem que superar a perda da chupeta e começa a perder a inocência. Nós adultos, também. Estamos sempre tendo que superar algo. Algo que nos machuca, lá no fundo, que muitas vezes não sabemos explicar. Não sabemos o que é, nem a razão de tanta dor. E como dói.
Mas isso ocorre em prol de quê?! Da nossa evolução pessoal?! Sabendo que nunca evoluiremos o suficiente, concluímos que uma superação trará outra necessidade de superação.
Será esse o processo que nos mantêm vivos?! De superar-mo-nos a todo tempo, mesmo não sabendo exatamente o porquê nem o quê precisa ser superado?
Os nossos fantasmas internos são muitos. Matamos um, logo aparece o outro que esperava na fila. Isso quando não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo; fantasma pode.
Creio que a origem do primeiro fantasma está na perda da chupeta, no primeiro passo que a inocência dá, quando começa a caminhar pra fora de nós mesmos. Cada superação parece uma busca desenfreada pela inocência que partiu. Mas no fundo sabemos que ela jamais vai ser alcançada, que sai de nós para evaporar, que é unilateral e irreversível.
Alguns têm a sorte de tê-la por um pouco mais de tempo, mas mesmo para estes é inevitável. Ela vai, e tudo muda. A dor dói mais, a alegria alegra menos.
Já não lembro de quando minha inocência partiu. Sei que ela se foi muito cedo, que quase não consigo lembrar de como era tê-la. O pouco que me resta dessa lembrança talvez seja o que move estas palavras. Mais que viver com ela, como seria a vida hoje se ela me acompanhasse, mesmo convivendo com um fantasma ou dois? Não sei, ninguém sabe.
Só sei que em alguma parte do caminho ela se foi em definitivo, que eu nunca mais a encontrei dentro de mim, por mais que a procure até hoje. E ela faz falta. Muita.
O Destro

2 comentários:

O Destro & O Canhoto disse...

Perder a inocência nos torna mais frágeis e mais fortes. É uma contradição...Como quase tudo na vida. É o que a gente aprende desde cedo...que temos de superar isso e aquilo, que nada é para sempre, esse papo todo de evolução que, muitas vezes, não enxergamos nenhum sentido nele...e eu te entendo muito bem. Quem não entenderia? A inocência parte, mas as lembranças ficam...
Enfim, só me resta dizer: lindo texto!

Anônimo disse...

nossa onde de eterna superaçao nos mostra como estamos longe do ideal. isso sem falarmos das superações coletivas... que estão anos luz no passado