segunda-feira, 28 de agosto de 2006

Explicando o inexplicável (uma história de araras e urubus)


Era inexplicável o eclipse e se explicou. Era inexplicável que a Terra seria redonda, ou quase isso, e se provou. Eram inexplicáveis os vulcões, os terremotos, os furacões, até que estudos os dissecaram. Mas estamos falando de fenômenos naturais e, mesmo desses, pra muitos ainda não há mais que hipóteses formuladas.

Falando ainda de natureza, agora mais da humana, há também diversas coisas difíceis de explicar. Sua mãe comprou aquela enciclopédia desatualizada por uma fortuna, seu pai comprou um carro com problemas mecânicos irreparáveis, sua irmã namora um rapaz com poucas perspectivas de futuro. Logo você conheceu o vendedor e o achou persuasivo, seu pai não entende nada de mecânica e o namorado da sua irmã é um doce e a trata muito bem. Tudo explicado.

Inexplicável, mesmo, parecem as coisas que dependem da nossa escolha. Criamos um urubu achando que ele se tornará um belo pássaro. Ele já dá sinais de que será um urubu, mas você o comprou como sendo uma exótica arara azul. Você desconfia daquelas penas pretas. Quando elas vão ficar azuis afinal?! Mas o vendedor garante, todo mundo diz que é coisa da sua cabeça. Até que o urubu cresce e ataca você, fura seu olho e o deixa cego. E nessa cegueira você percebe que cego de verdade você foi durante todo o tempo que não acreditou em si mesmo, por alimentar o pássaro com o seu melhor, por se dedicar a ele, por se sacrificar por ele.

Se você tiver sorte o ataque passou de raspão e a cegueira é reversível. Em breve você estará bem e longe dos urubus. Você descobre então que é o momento de se apegar ao que você acredita, ao que você adiou por muito tempo, à sua essência, a você. E não se trata de egoísmo. O resto são os outros e os outros são apenas o resto, e continuam sendo urubus se alimentando de carne morta, mas não mais da sua.
O Destro

7 comentários:

Anônimo disse...

"O resto são os outros e os outros são apenas o resto, e continuam sendo urubus se alimentando de carne morta, mas não mais da sua."

Pois é, guri... infelizmente a gente se perdôa, depois perdoa o urubu, e por fim, esquece... por que o perdão é o primeiro passo para o esquecimento... e dae, dá no que dá... eles se desfarçam outra vez...

Gostei muito do texto

Anônimo disse...

"O resto são os outros e os outros são apenas o resto, e continuam sendo urubus se alimentando de carne morta, mas não mais da sua."

É... infelizmente a gente se perdôa, perdôa o urubu (afinal, ele é instinto) e por fim, esquece... por que o primeiro passo do esquecimento é o perdão.

E eles voltam a se disfarçar...

Gostei do texto, guri...

Maíra Ribeiro disse...

Adorei o texto, adorei a idéia do blog e tomei a liberdade de inserir no meu blog o link para o vosso! E me sinto quase parte do blog de vcs. Nasci em Porto, fui criada em Floripa e tb fiz faculdade de comunicação (jornalismo). Hummm, nos conhecemos? Talvez se eu fosse ambidestra hahaha Bom meninos, bom blog, bons posts e tenho que dizer que o meu urubu estava quase me deixando cega mas ele tem data marcada para o abate, 30 de setembro! Valeu ;)

O Destro & O Canhoto disse...

Eu conheço esse urubu...hehehe

Anônimo disse...

eu naum conheço esse urubu...mas conheço outros..... conheço a Maíra também e (acho) o Urubu dela!!!!

... mas sabe que esses dias encontrei um Urubu que se fazia passar por Arara... e, com o tempo, percebi um tom azulado em suas penas....será algum tipoo de pintura?

E eu finjo que acredito....
Mas mantenho a guarda pronta!!!!

Anônimo disse...

eu matei meu urubu, graças!
ótimo texto!!!!

Anônimo disse...

Há um tempinho atrás eu me senti exatamente como essa pessoa que comprou Urubu pensando em ser Arara Azul!!
Fantástico... e tb, como no texto, a cegueira foi reversível e me curei de mais essa!!
Obrigado pelo lindo texto!!
Beijão!!